Ministro Tarcísio quer relaxar fiscalização dos caminhoneiros e pode colocar vidas em risco

Segundo ele, a ideia é fazer um “revogaço de normas“, com o apoio do diretor-geral da PRF, para relaxar na fiscalização de caminhões com suspensão alteradas, conhecidos como ‘caminhões arqueados’ e das faixa refletivas. “A ideia é revogar uma série de normas que estão ‘enchendo o saco’, que não concorrem para a segurança e geram multas desnecessárias”, disse, durante entrevista a uma rádio virtual de caminhoneiros.

O caminhoneiro Jorge Matoso que faz a rota São Paulo – Rio Grande do Norte, demonstra claramente que pensa diferente do Ministro Tarcísio de Freitas. Inclusive afirma nunca ter problema com a PRF.

 

Diante das declarações, o Estradas foi ouvir um especialista no assunto, o engenheiro Antônio Celso Fonseca Arruda, mestre e doutor pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que atua junto ao INMETRO na avaliação de dispositivos de retenção para crianças em veículos automotores, de berços infantis, de andadores, de carrinhos para bebês e de cadeiras de alimentação.

Segundo ele, a declaração do ministro Tarcísio de Freitas é insana. “Não fiscalizar a altura dos para-choques traseiros é uma medida ilegal. Trata-se de crime doloso, intenção de decapitar pessoas.”

Arruda também declarou: “Não discuto política, religião nem futebol, mas nas questões de trânsito estamos regredindo mais de duas décadas”.

O engenheiro é coordenador do Projeto Impacto, criado no início dos anos 2000, pelo engenheiro de Segurança, Luís Faber Otto Schmutzler (já falecido) com os seguintes objetivos:

Arruda ressaltou que o projeto Impacto ganhou o prêmio Volvo de Segurança Veicular. “Nós fomos citados em artigos publicados em noves países. Nunca pensei que isso pudesse voltar para trás. Estou absolutamente chocado. Vou tomar as providências legais imediatamente.”

No dia 13 de janeiro um filho colidiu na traseira do caminhão arqueado do pai, na BR-376 na região Metropolitana de Curitiba-PR. O rapaz, que também gostava dos caminhões levantados na traseira, morreu juntamente com a esposa.

Dias antes o pai tinha postado no instagram vídeo em que ficava evidente, ao contrário do  alegou em entrevista na tv Record, que seu caminhão estava completamente fora do que determina a legislação. No vídeo a situação real da traseira do caminhão que é bem diferente da versão do caminhoneiro nas entrevistas.

 

A Polícia Rodoviária Federal, não somente neste caso como em vários outros confirmou os riscos desse tipo de caminhão e do efeito guilhotina, conforme apresentado por vários especialistas.

Notícias sobre caminhões arqueados “desaparecem” do site da PRF

No dia 14 de fevereiro o Estradas postou matéria veiculada no site da Polícia Rodoviária Federal do Ceará. A superintendência produziu vídeo sobre os perigos dos caminhões arqueados.  De forma surpreendente a matéria sumiu do site da PRF que foi nossa fonte. Embora menção a mesma notícia apareça em outro veículo, conforme link.

Na pesquisa que realizamos no site da PRF ao consultar a palavra arqueado não aparecem mais notícias sobre o tema. Ocorre que a PRF foi ouvida em inúmeras matérias veiculadas sobre o tema no país e em todas elas condenou esse comportamento e alertou para os riscos. Há quem diga que, a cada caminhão que é levado para uma oficina para regularizar a traseira “some” uma notícia de caminhão arqueado no site da PRF.

O Estradas.com.br entrou em contato com o Ministério da Justiça e da Infraestrutura, além da Direção Geral da Polícia Rodoviária Federal e perguntou se os ministros e o diretor geral se responsabilizariam por mortes que possam ocorrer em decorrência de alteração das normas ou relaxamento da fiscalização.

A resposta do Ministério da Infraestrutura, através da sua assessoria foi:

“A discussão sobre quais normas serão analisadas e possivelmente revogadas ocorrerá dentro do grupo de trabalho citado pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, que ainda será formado.Ressaltamos que o diálogo com transportadores de carga está no escopo de atuação do Ministério da Infraestrutura e que o ministro preside o Conselho Nacional de Trânsito (Contran).”

Entretanto, o ministro Tarcísio de Freitas diz textualmente que combinou com o Diretor Geral da Polícia Rodoviária Federal o relaxamento da fiscalização dos caminhões com traseira alta. Mas admite que PRF não é responsabilidade do seu ministério e sim do Ministro da Justiça, apesar de sua interferência evidente no caso. Mencionou ainda as faixas refletivas, outro item de segurança, que pretende relaxar a fiscalização.

Em 2017 o SOS Estradas realizou pesquisa sobre as faixas. Foram avaliados 506 veículos entre caminhões e ônibus, que estavam em pontos de parada de sete estados brasileiros. Todos os motoristas entrevistados foram a favor da utilização das faixas. No caso dos ônibus 90% estavam com as faixas em dia , já nos caminhões a média caiu para 52%. Dos motoristas entrevistados apenas 31% reconheceram que foram fiscalizados em algum momento pelas polícias rodoviárias federal e estaduais. Além da pesquisa o SOS Estradas apresentou várias sugestões importantes para ampliar a utilização das faixas, intensificar a fiscalização e aprimorar a legislação.

No mesmo ano, o Observatório Nacional de Segurança Viária, que auxilia o ministério da Infraestrutura em vários temas fez campanha sobre a importância das faixas refletivas que agora o ministro pretende negligenciar.

Por meio de ilustrações, o material alertava para a necessidade de ser visto nas rodovias, lembrando que desrespeitar o uso da faixa é desrespeitar a vida. O folheto ressalta, ainda, que a visibilidade durante a noite é 95% menor que durante o dia e que, sem o uso da faixa é possível ver um caminhão a apenas 20 metros de distância, quando com a faixa é possível visualizá-lo a 200 metros. O material explica, ainda, que colisões traseiras e laterais representam 58% dos acidentes com veículos pesados nas rodovias brasileiras.

Ministério da Justiça e PRF até o fechamento desta matéria não se manifestaram.

SOS Estradas condena mais essa medida absurda

O Coordenador do SOS Estradas, Rodolfo Rizzotto, afirma que essa é mais uma demonstração clara de que o governo não tem compromisso com a segurança viária. “Relançaram o PNATRANS , do qual participamos, para supostamente atender a Década de Segurança Viária. Na prática, em 2019, pela primeira vez desde 2011, tivemos aumento das mortes nas rodovias federais. O que continuou nos dois anos seguintes com a redução do tráfego pela pandemia. Agora, o ministro, preocupado com sua candidatura e querendo agradar maus profissionais que falam muito com ele, vem com medida populista que consegue ser impopular para a maioria dos caminhoneiros. Os profissionais da estrada sabem os riscos que representam os caminhões arqueados e a importância das faixas refletivas. Portanto, o ministro deve ter batido com a cabeça na traseira de caminhão arqueado e deixou de raciocinar politicamente ou é um completo irresponsável.”

Rizzotto espera que o Diretor da PRF não caia nessa armadilha, assim como demais membros do Contran. Inclusive porque poderão ser responsabilizados por mortes decorrentes de mudanças de normas ou negligência na fiscalização desses itens quando, em decorrência dessas medidas, ocorrerem óbitos e lesões graves.

” A violência no trânsito não pode ser politizada pois não escolhe as vítimas por partido político, ela mata indistintamente. Mas o fato concreto é que esse governo não tem legitimidade para levar adiante um Plano Nacional de Redução de Acidentes. Além do mais, caso realmente desejasse atender os caminhoneiros o ministro deveria estar preocupado com as condições de trabalho desses profissionais e justa remuneração do frete.”, acrescenta Rizzotto.

Na avaliação do SOS Estradas o ministro não está criando um grupo de trabalho e sim grupo da morte no trânsito!

 

 

Por Estradas

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