CAMINHONEIRO DO AMOR – Fiat 190 H 6×2

Ele era um romântico inveterado.
Caminhoneiro dedicado e inteligente.
Dirigia bonito cavalo trucado.
Fiat cento e noventa muito potente.

O cavalo Fiat, cabina cor preta.
Puxava um semirreboque baú.
Era uma imponente carreta.
Viajava com ela de norte ao sul.

Apesar de ser motorista autônomo.
Fazia fretes para transportadora.
Para a empresa não era um anônimo.
Conhecido pois sempre competente fora.

Certa vez na cidade de Apucarana.
Estacionou a carreta defronte hospital.
Rua movimentada, estreita e plana.
Sua habilidade ao manobra-la era total.

Rua Rio Branco, Hospital da Providência.
Trazia tomógrafo e aparelho de ressonância.
Seu Fiat esbanjava beleza e imponência.
Em qualquer rodovia mantinha a constância.

Desceu e aguardou sob sol de verão.
Usava da empresa o uniforme.
Ocupava metade da rua seu caminhão.
Para motoristas era massa disforme.

Com um lenço, tirou o suor de sua fronte.
Não percebeu que era do alto observado.
Bela jovem que morava no apartamento defronte.
Puxou a cortina e olhou discretamente, de lado.

Ao ver aquele homem bonito e forte.
Usando um macacão da empresa.
Os olhos dela extasiaram com seu porte.
A jovem se encantou por sua beleza.

No semirreboque o telefone da companhia.
Ela ligou perguntando sobre o motorista.
A secretária foi verificar, quem era, descobriria.
Procurar os caminhoneiros em uma lista.

Passaram-se alguns instantes.
Ela ouviu no telefone um som.
A secretaria que a atendera antes.
Disse que o caminhoneiro era o Anderson.

Em sua ficha constava alguns dados.
Não era empregado da empresa.
Fazia transportes terceirizados.
Profissional competente com certeza.

Enquanto falava ao telefone.
A jovem o admirava por trás da cortina.
Era bonito e tinha um belo nome.
O rapaz parado, encostado na cabina.

Ela pediu o contato do motorista.
A secretária disse que era sigilo.
A jovem não perderia a sua pista.
A muito tempo não sentia aquilo.

“Que homem bonito”, dizia para si.
“É o genro que minha mãe deseja”.
“Como esse rapaz, belo assim nunca vi”.
Queria sair e com ele tomar uma cerveja.

Mas como faria uma abordagem?
Teria de sair para o trabalho em breve.
Certamente o rapaz logo seguiria viagem.
Ela tinha uma aparência doce, suave e leve.

Ela era representante comercial.
Daria um jeito de puxar conversa.
Saiu com sua mala em direção ao hospital.
Iniciando atividades naquela manhã de terça.

Vestiu-se com elegância extrema.
Era pequenina, mas que mulher.
Quem a visse, para ela comporia um poema.
Dava para ver que não era uma qualquer.

O carreteiro parecia pensativo.
A jovem passou e ele não notou.
Tinha um olhar distante, contemplativo.
A jovem desceu a quadra e voltou.

Fez menção de entrar no hospital.
Parou com sua mala de rodinhas.
Aquele caminhoneiro era especial.
Eram duas pessoas que viviam sozinhas.

Ela deixou a casa dos pais por amá-los.
Tinha para isso bons motivos.
Devido ao trabalho tinha medo de contamina-los.
Precisava deles em sua vida bem vivos.

Era ainda período de pandemia.
No coração e na mente, sentimento que divide.
Se os contaminasse ela não se perdoaria.
Matava muitas pessoas o COVID.

Ele era um viajante solitário.
Não se casou para não criar raiz.
Seu caminhão, um bruto extraordinário.
Beleza combinada com força motriz.

Ambos usavam máscaras por segurança.
Mas ela sabia ver além daquele adereço.
Anderson tinha uma postura mansa.
Ao comodismo e ao sossego era avesso.

Um do outro não viram o rosto.
A máscara criava um mistério.
Máscara discreta ela havia posto.
Ele mantinha um jeito sério.

Ela passou esbanjando charme.
Exalava elegância e simpatia.
Não há quem não se desarme.
Por ela, Anderson se encantaria.

Olhou-a com desejo, a princípio.
Baixa estatura, a romantismo era avessa.
Homem meloso para ela era um suplício.
Era assim a bela menina Andressa.

Gostava de homem com pegada.
Mas que não fosse agressivo e grosso.
Anderson que disso não sabia nada.
Era rapaz rústico, porém um bom moço.

Ela puxou assunto e rolou uma conversa.
Anderson a convidou para sair.
Naquele bate-papo acabou imersa.
Insistiu para na lanchonete com ele ir.

A noite chegou e ele hospedado em hotel.
Lugar simples, atendia suas necessidades.
O apartamento dela parecia pedacinho do céu.
Espelho e maquiagem eram suas vaidades.

Ele foi buscá-la de caminhão.
Deixou o semirreboque no posto.
Tocou a campainha, acelerado o coração.
Ao vê-la sem máscara, hipnotizado por seu rosto.

Ele abriu a porta, ajudou-a a subir.
Ela pensou: “Que caminhão enorme”.
“Como será que consegue dirigir”?
“Naquele sofá cama deve ser onde dorme”.

Ela estava ansiosa, isso era notório.
Anderson perguntou sobre seu trabalho.
Ela disse que era representante de laboratório.
Saber mais sobre ela era um atalho.

Ele não mostrou ter se impressionado.
Queria saber se gostava do que fazia.
Ela percebeu que ele era diferenciado.
Sendo caminhoneiro, vida de aventura vivia.

Foram a uma lanchonete badalada.
Conversavam entre goles de cerveja.
Com ele, ela estava impressionada.
Ela era a mulher que todo homem deseja.

O rapaz fez questão de pagar a conta.
Apesar dela se oferecer para dividir despesa.
Seu jeito de ser deixava ela atordoada, tonta.
Suas atitudes causavam surpresa.

Ao mesmo tempo que era rústico.
Sabia ser educado e gentil sem excesso.
A bordo do FIAT, gostoso som acústico.
Música sertaneja com eles fazia sucesso.

Trocaram telefone, ele foi embora.
Ela pensou que não o veria novamente.
Ele na boleia pensava nela naquela hora.
Ela não o tirava de sua mente.

Mesmo morando distante de Apucarana.
Anderson voltou para rever a menina.
Para ela foi uma surpresa bacana.
Começaram a namorar dentro da cabina.

O namoro foi ficando mais sério.
Ele a tratava com respeito e carinho.
Andressa via nele ainda um mistério.
Anderson não se via mais sozinho.

Ele sempre trazia para ela um presente.
Ela pedia para não se preocupar.
Ela pensava que ele fazia sacrifício somente.
Pois talvez seu salário poderia não dar.

Certo dia apareceu de surpresa.
Aguardou ela terminar seu trabalho.
A semana dele fora de muita dureza.
Rodou por estrada coberta de cascalho.

Convidou-a a conhecer sua família.
Ela sentiu seriedade do relacionamento.
Convivência familiar com ela partilha.
Sentiu-se emocionada nesse momento.

Ele e sua família moravam na zona rural.
Plantavam na terra diversas culturas.
Andressa tentou agir de modo natural.
Mas ficou surpresa àquelas alturas.

Anderson transportava a colheita.
E sua família era abastada e trabalhadora.
Gostou dela pois se mostrou a ele por inteira.
Relação de amor entre eles seria duradoura.

Andressa deixou de ser representante.
Iria agora trabalhar perto da fazenda.
Anderson se tornou seu marido e amante.
Ela não abria mão de trabalhar e ter sua renda.

Ele respeitou o desejo de Andressa.
A vida de ambos andou sempre nos trilhos.
Dois anos depois de casados por incrível que pareça.
O casal já tinha seus dois filhos.

Essa foi a história desse casal.
Diferentes, mas fisgados pelo amor.
Amor entre eles, foi primordial.
Ao regressar ele sempre trazia para ela uma flor.

Autor: Roberto Dias Alvares

Por Blog do Caminhoneiro

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar Para Cima