HISTÓRIA DA ESTRADA – LOUCURA PELA ESTRADA

Eu que sempre fui responsável.
Cansei da monotonia diária.
Ir para a estrada, era mais viável.
Precisaria de máquina extraordinária.

Não precisava ser veloz.
Mas que dê conta do recado.
Saí do trabalho e logo após.
Fui atrás de um cavalo trucado.

A procura de um caminhão.
Fugi da mesmice dos atuais.
Queria um estradeiro com inovação.
Scania, Volvo ou Mercedes não mais.

Agrale, empresa brasileira.
Encomendei um cavalo mecânico.
Seria uma opção pioneira.
Veículo bastante dinâmico.

Chassis trucado e motor Paccar.
A cabine feita sob medida.
Estradeiro para impressionar.
Cavalo para enfrentar a lida.

Com montadora, fechei negócio.
Bonito caminhão eu seria dono.
Com a esposa, quase deu divórcio.
Pensei comigo: “Agora eu detono”.

Apaziguei a situação com a patroa.
Convidei-a para dar uma volta.
Saí dirigindo meu estradeiro de boa.
Comigo ia a mais linda escolta.

Disse a ela que iria sair pelo mundo.
Fazer transporte e levar o frete.
Era esse meu desejo mais profundo.
O bruto daria conta, não sou de jogar confete.

Ela não gostou nada dessa ideia.
Pensou que eu arrumaria rabo de saia.
Disse que eu não iria nessa epopeia.
Ficaríamos em nossa casa em Jandaia.

Pediu que esquecesse essa história.
Eu falei que disso não abria mão.
Tentar convence-la, tarefa inglória.
Deixei ela falando e entrei no caminhão.

Enquanto me afastava ao volante.
A mulher lá fora, proferia palavrões.
Me tornaria um solitário viajante.
Levaria uma vida de muitas emoções.

Quantas viagens realizei com sucesso.
Era valente o cavalo mecânico Agrale.
Para casa, nem pensava no regresso.
A seu desempenho nenhum outro iguale.

Caminhoneiros se perguntavam, curiosos.
Como conseguiu um cavalo da marca Agrale?
Na estrada, mostrava ser dos mais valorosos.
Nos declives, não deixo que ele embale.

Certo dia em uma das minhas andanças.
Sabendo que a esposa me dera cartão vermelho.
Para o amor senti renovar as esperanças.
Vi linda e encantadora mulher pelo espelho.

Estava abastecendo meu cavalo.
De todas, a mais linda frentista.
No coração emoção, no corpo um abalo.
De cinema parecia uma artista.

Conversamos e a convidei para jantar.
Desconfiada, não queria aceitar o convite.
Disse que desejava conhecê-la, conversar.
Não a respeitar seria verdadeiro acinte.

Usei meu poder de convencimento.
Ela aceitou, depois do expediente.
A levei a respeitável estabelecimento.
Em sua companhia, me sentia contente.

Depois do jantar, dentro do Agrale.
A conversa foi agradável e casual.
O que aconteceu depois, nem me fale.
Entregamo-nos ao prazer carnal.

Ela então sussurrou em meu ouvido.
“Levanta daí e levanta já”.
Abri os olhos, sem ter entendido.
Me vi em casa, dormindo no sofá.

À minha frente estava a patroa.
Não sabia se chorava ou se ria.
Me disse: “Você que está aí à toa”.
“Tem um monte de louça suja na pia”.

“Não fala nada, se cale”.
“Na linha sou eu que te ponho”.
Eu não era dono de um cavalo Agrale.
Tudo que vivi fora apenas um sonho.

Levantei-me do sofá sonolento.
Lembrava do meu sonho é daquela moça.
Cheguei na cozinha, que sofrimento.
Para lavar, havia uma pilha de louça.

Mesmo assim resolvi tomar uma decisão.
Não trabalharia mais em lugar fechado.
Compraria sim um belo caminhão.
Seria um estradeiro invocado.

Com a esposa entrei em acordo.
De realizar o sonho aumentou esperanças.
Faria transporte de carga, o transbordo.
Levaria de uma a outra cidade, mudanças.

Faria apenas viagem curta.
Para casa, voltaria ao final do dia.
Do contrário, a esposa surta.
Com ela, todas as noites dormiria.

Comprei um caminhão Agrale.
Baú e com terceiro eixo.
Pequeno, mas para mim o que vale.
Realizei o sonho de ir para o trecho.

Roberto Dias Alvares

Por Blog do Caminhoneiro – Ler artigo original

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